segunda-feira, 7 de julho de 2014

Paradoxo: Talvez o Brasil jogue melhor sem Neymar

A ausência de jogos da Copa do Mundo nos faz pensar muito – sobre futebol, lógico. Todo o imbróglio da punição de Zúñiga, a revolta geral, o boato de que o atacante teria condições de jogar a final... Se não tem jogos, vamos falar do que está por trás. Mas eu já tratei desses assuntos aqui. Prefiro falar de campo e bola. E eu acho que estamos diante de um grande paradoxo.

Explico: eu acho que o Brasil pode se apresentar melhor contra a Alemanha sem Neymar do que com o craque em campo.

Passada a chuva de pedras que recebi depois do parágrafo acima, vou tentar explicar esse ponto.

O brasileiro em geral gosta do craque. Historicamente valoriza muito mais o cara que decide em um lance individual do que uma grande atuação coletiva como um todo – e isso pode-se ver nas transmissões televisivas brasileiras, quando comparadas com as dos campeonatos europeus: aqui o foco é muito mais fechado no jogador e na jogada que ele está fazendo, enquanto lá fora o campo de visão é mais aberto, para o time quase todo.

Nessa Copa tínhamos um craque: Neymar. Ele decididia driblando, partindo em velocidade, puxando a marcação, fazendo gols. Infernizando a defesa adversária, em suma. Isso colocava uma pressão absurda, não só em cima dele como em cima do time: “Se temos um cara que decide, é nele que a bola precisa estar o máximo de tempo possível.”

Pensamento justo, evidentemente. Óbvio, até. Mas que pode levar a deficiências no futebol.

Toda a bola vai nele. Toda jogada precisa, necessariamente, passar por ele. Ele é o mais visado pela marcação. Ele decide.

Isso torna o jogo previsível. Por que, então, dá certo? Ora, porque Neymar é imprevisível. E, com tudo isso que eu citei acima, ele decide mesmo assim.

Mas, vocês se lembram, o Brasil não jogou bem nos três primeiros jogos. O craque sim, decidiu. Até nas oitavas e nas quartas, batendo escanteio.

O cenário agora é outro: com Neymar fora, a referência sai também. O problema é que essa referência existe também para o adversário. “Bola no Neymar, que é jogo de campeonato”.

Sem ele, o Brasil passa, obrigatoriamente, a ter que jogar mais como equipe. Vão precisar aparecer variações de jogo, viradas de lado, laterais mais atuantes, meias que armam melhor, atacantes que abrem espaços, jogadas ensaiadas, um sistema de transição sólido, etc. Para suprir sua carência, a Seleção vai ter que melhorar – caso isso não aconteça, amigos, a eliminação é eminente.

Isso é uma teoria, um cenário possível. Se eu acredito que possa acontecer? Acredito. Confio no trabalho do Felipão para modificar essa equipe e o cenário.

Dá? Dá.

Estamos todos na torcida para que funcione.

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