segunda-feira, 30 de junho de 2014

O mistério de Daniel Alves

Ao longo dos meus anos acompanhando futebol e lendo um tanto de história, eu aprendi que um lateral tem três funções principais em campo – e que, por causa delas, é uma posição muito única. São elas: marcar, chegar à linha de fundo e cruzar.

Daniel Alves não marca, mal chega à linha de fundo e definitivamente não cruza.

A pergunta de um milhão de dólares, então: por que raios ele é titular da Seleção Brasileira?

Eu não sei, você não sabe, ninguém sabe. A única pessoa no Brasil que deve saber é o Felipão.

O futebol praticado no time de Daniel, o Barcelona, é sensivelmente diferente do praticado no Brasil. E o fato dele ser um bom lateral lá não significa que vá ser um bom lateral aqui. Na verdade, é o contrário: ele ser bom lateral no time espanhol significa que ele não vai prestar pra jogar nessa posição no Brasil.

Como diria nosso amigo Jack, vamos por partes.

Primeiro: marcar. O lateral é, antes de tudo, um zagueiro que joga pelo lado do campo. Ele fecha os espaços nas pontas do campo, evita que os adversários entrem em velocidade e fazem a marcação de quem eventualmente esteja aberto. E importante: o lateral é o último jogador antes do limite do campo – o que significa que o seu posicionamento basicamente define o espaço que um adversário vai ter.

(repararam como o Ronaldinho Gaúcho sempre gostou de jogar por ali, do lado esquerdo? Na lateral do campo, só existe um marcador entre o atacante e o gol – na outra direção existe a linha lateral e, consequentemente, o FINAL do campo. Segue)

O Barcelona do Guardiola, auge do Daniel Alves, subvertia essa lógica porque a marcação por pressão começava no campo de ataque. Na verdade não chegava a ser marcação: era um tremendo “abafa”, ou seja, os blaugranas vinham em bloco em cima do adversário com a bola, retomavam rapidamente – na maioria das vezes no campo de ataque – e vida que segue. A bola chegava na linha de fundo defensiva do Barça RARÍSSIMAS vezes. Logo, o “lateral” estava posicionado na última linha dificilmente.

Pra finalizar esse ponto: Daniel Alves não corre atrás da bola quando perde ela, que nem fazia no Barcelona. O primeiro gol da Copa, nas suas costas, é o retrato disso.

Ou seja, ele não marca. Ou pelo menos marca de maneira muito diferente no Barcelona (que hoje nem tem mais aquela pressão que tinha na época do Guardiola) do que no Brasil. Então, não serve.

Chegar à linha de fundo é a segunda função do lateral (moderno, obviamente). Vejam, conseguir passar pela última linha adversária para chegar no final do campo e cruzar para trás, ajudando enormemente o trabalho do companheiro que chega de frente (importante, bate na bola de frente, aumentando a força e dificultando a vida do goleiro que tem que agarrar um chute mais rápido).

Daniel Alves chega raramente à linha de fundo. E quando chega, deixa uma avenida atrás dele. E não volta pra recompor. E o Brasil toma pressão. E o adversário faz o gol. Alguém já viu esse filme? Pois é, eu também.

Ele tem um clássico costume de meia pelo lado direito: entrar em diagonal, pelo bico da grande área, buscando o chute ou o passe curto (Barcelona, alguém?). Linha de fundo é quase um local proibido pra ele – apesar de ser essencial pro jogo moderno. Sem esquecer, claro, que ele é destro e joga pela direita – ou seja, o chute/passe dele quando corta pra dentro cai na perna esquerda.

Logo, não serve pra chegar na linha de fundo. Segue.

Ele não cruza. E tem um motivo bastante prático pra isso: ele joga em um time de anões. Não que isso seja necessariamente um problema – o Barcelona ganhou muitos títulos nos últimos 5 anos, obrigado –, mas o lateral da Seleção precisa cruzar. Ou pelo menos saber. E ele não sabe. Ou não quer, sei lá.

O fato é que são duas propostas de jogo diferentes: o time catalão gosta de ter a bola no pé, passar curto e buscar a infiltração em velocidade. Já o time brasileiro é mais vertical, buscando passes longos, lançamentos, corridas do Neymar em velocidade e bolas enfiadas – por cima ou por baixo – pro Fred. O Barcelona não joga com um centro avante, enquanto o Brasil joga um muito bom em jogo aéreo. E tem um time mais alto. Logo, enquanto o lateral direito não cruzar, literalmente perdemos uma arma em campo.

Tudo isso para dizer: Daniel Alves é muito mais um meia pelo lado direito, talvez um ala-que-não-cruza, do que um lateral. Isso justifica o grito pela titularidade do Maicon: ele não é mais técnico, talvez até não esteja em melhor fase do que o Daniel, mas é lateral. Ponto. Sabe jogar naquela faixa do campo, tem fisico para tal ainda hoje. O jogador catalão não sabe.

Mistério. Por que Daniel Alves é titular absoluto da Seleção Brasileira, numa função que ele não joga há pelo menos 6 anos?

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