quarta-feira, 18 de junho de 2014

As vaias de Diego Costa

Durante muito tempo ele foi o assunto principal das mesas de bar Brasil afora. Certo ou errado? Livre pra fazer as próprias escolhas? Abandonou o Brasil? O que Diego Costa fez, afinal? E, acima de tudo, por que gera tanta raiva dos brasileiros?

Eu sempre tento entender os dois lados de cada história – isso é o mínimo que um jornalista deve fazer. Saber o que ele pensou é importante, mas saber o que pensa quem critica e quem elogia é mais.

Por que tantas vaias?

É sempre bom lembrar que fizeram um carnaval quanto à convocação dele para a seleção espanhola. Felipão, com a gente bem lembra, caiu numa pegadinha em um programa humorístico de rádio na Espanha e falou abertamente que contava com o jogador para a Seleção Brasileira. Pouco depois, ele garantiu que jogaria pela Fúria – e foi convocado por Del Bosque. A reação do presidente da CBF, José Maria Marin, e do próprio Felipão foram sintomáticas: críticas, acusações de anti-nacionalista, de ter virado as costas para o seu país, etc.

Diego se justificava falando que só foi reconhecido na Espanha, e que sentia gratidão àquele país. Natural. Justo, até.

Mas todo o contexto em que a história se apresentou foi bastante único. Enxergando do começo ao fim o que aconteceu, percebe-se que não é tão simples assim.

Voltando muito para trás, lembramos da aberração que foi a seleção da própria Espanha em 1962, simplesmente com Di Stéfano (argentino que os mais antigos dizem ser melhor que o próprio Maradona) e Puskás (húngaro e astro da seleção que encantou o mundo na copa de 1954).

A FIFA, anos mais tarde, começou a adotar uma postura mais dura: os jogadores poderiam vestir a camisa de apenas uma seleção nacional durante toda a carreira.

Veio, então, a questão: Qual seleção? Thiago Motta, nascido em São Bernardo do Campo, vestira a camisa da Seleção Brasileira em seus tempos de base. Depois de negociações, a FIFA admitiu a sua convocação para o time principal da Itália. Não foi convocado para a seleção principal, então valia se utilizar de sua nacionalidade italiana para jogar por outro país.

Não tinha chances e escolheu um lugar onde provavelmente poderia jogar. Natural. Um pouco de exagero – afinal, quantos jogadores não jogam pelas bases dos seus países e depois somem? É o curso natural da vida do atleta. Mesmo assim é compreensível.

O caso Diego Costa foi ainda mais além. Foi convocado e jogou duas partidas pela Seleção Brasileira principal em 2013. Mas foi feita uma manobra na nossa gloriosa federação internacional, onde o regulamento passou a ser “jogar por COMPETIÇÕES OFICIAIS”, e ele foi autorizado a jogar pela seleção espanhola. Tinha jogado amistosos pelo Brasil, afinal.

Agregue à essa situação única o fato de Diego Costa ter vaga no elenco que disputaria a Copa no Brasil – isso dito pelo próprio Felipão – e ter, literalmente, virado as costas.

Para piorar ainda mais, existem alguns exemplos de jogadores em situações semelhantes e que escolheram defender a seleção brasileira. Em 2010 os portugueses não entendiam o motivo de David Luiz, então no Benfica, não ser convocado pela seleção brasileira e já cogitavam a sua naturalização para que ele defendesse Portugal. Mano Menezes o convocou assim que assumiu e ele se firmou como titular.

Mas a questão é: Alguém lembra de David Luiz no Vitória? Ele só passou a ser reconhecido em Portugal. E hoje é um dos pilares da Seleção Brasileira.

A mesma coisa se aplica a Daniel Alves. Ele defendeu o Bahia até 2003, alguém lembra? Depois ficou 5 anos no modesto Sevilla até ir para o poderoso Barcelona, onde ganhou o mundo (coisa que digo com muita dor no coração – não gosto de seu futebol). Ele poderia ter se naturalizado espanhol e jogado por lá, mas desde 2006 é convocado, ganhando a titularidade absoluta a partir de meados de 2010.

E Hulk? Ele jogou 3 anos no Japão, 4 em Portugal e está há 2 na Rússia. Mas, acreditem, jogou no Vitória em 2004 e 2005. Sua primeira convocação foi em 2009. E hoje é titular da Seleção. Também poderia ter se naturalizado e defendido outro país.

Lógico que existem outros casos, como o de Eduardo da Silva pela Croácia nessa copa de 2014, Deco na copa de 2006 e Liédson em 2010 por Portugal e, puxando mais atrás, Wagner atuando pela seleção japonesa na copa de 1998.

Mas todos eles têm uma diferença fundamental para Diego Costa: eles não tinham oportunidade pelo Brasil e resolveram atuar por outros países. Diego Costa foi chamado para defender o Brasil e não atendeu.

E é isso que o povo não perdoa. Ele não virou as costas pra quem virou as costas para ele. Ele virou as costas para quem ofereceu-lhe um abraço.

Se isso é certo ou errado são outros 500. Mas é assim que eu enxergo a situação.

Nenhum comentário :

Postar um comentário